O Fado

O que é o fado?

É extremamente difícil definir o que é o Fado sem cair na deriva de uma descrição limitadora e estereotipada.

É certamente importante saber que, na maioria dos casos, o cantor ou a cantora de Fado, chamada “fadista” está rodeado por dois músicos: aquele que o acompanha ritmicamente com uma guitarra clássica a que chamamos “viola” e outra que sublima melodicamente a canção com a “guitarra portuguesa”. Mas podemos dizer que são estes os elementos que mais fielmente caracterizam o Fado?

Deveríamos antes falar do seu carácter melancólico, da expressão desta saudade tida como poesia do Fado pelo poeta Fernando Pessoa? Limitar o Fado a esta visão única seria deixar uma imagem errónea dele.

A saudade é a poesia do fado

La Saudade est la poésie du Fado – Fernando Pessoa

Deveríamos antes tentar descrever as formas que pode assumir: Fado de Coimbra ou de Lisboa, Fado tradicional das Casas de Fado da capital portuguesa ou Fado Novo dos grandes palcos internacionais, o das tabernas e bordéis do século XIX? ou o dos salões e teatros burgueses do século XX? Suas formas são tão variadas que mesmo descrevendo uma nos deixaria com uma imagem parcial do que ele realmente é.

Uma arte no coração de um debate perpétuo

Eleziela à Lyon

Hoje se reconhece que esse género musical veio do Brasil e que inicialmente tinha uma forma de dança *. Desde sua chegada, ele cruzou os tempos e seus códigos atuais são apenas o reflexo de toda sua história, rica, tumultuada e às vezes paradoxal.

*  O talentoso músico Ricardo J. Martins também combina lindamente a guitarra portuguesa e a dança na sua composição contemporânea Danças na Eira.

Este género musical, promovido como Património Cultural Imaterial da Humanidade em 2011 pela Unesco, sempre esteve no centro de fortes debates ideológicos para o povo português e ainda hoje definir o Fado envolve uma parte da subjetividade, até mesmo um viés. Nunca é neutro falar de Fado.

Por isso, mais do que dar uma definição que consideraríamos incompleta ou insatisfatória, sugerimos, através do texto de Raul Portela e de Mário Rainho, descobrir a canção de Mariza, Recusa, que ilustra perfeitamente esta grande dificuldade em defini-lo sem cair em clichês.

Recusa – Mariza

Se ser fadista é ser lua
É perder o sol de vista
Ser estátua que se insinua
Então eu não sou fadista.

Se ser fadista é ser triste
É ser lágrima prevista
Se por mágoa o fado existe
Então eu não sou fadista.

Se ser fadista é, no fundo,
Uma palavra trocista
Roçando as bocas do mundo
Então eu não sou fadista

Mas se é partir à conquista
De tanto verso ignorado
Então eu não sou fadista
Eu sou mesmo o próprio fado!

Mariza – Recusa

Refus – Mariza

Si être fadiste, c’est être lune
Et perdre le soleil de vue,
Être une statue qui se montre
Alors, je ne suis pas fadiste.

Si être fadiste, c’est être triste
Être une larme prévisible
Si par la peine le fado existe
Alors, je ne suis pas fadiste.

Si être fadiste, c’est, au fond,
Être une parole moqueuse
Ou flatter les oreilles du monde
Alors je ne suis pas fadiste.

Mais si c’est partir à la conquête
De tant de poèmes ignorés
Alors je ne suis pas fadiste,
Je suis, le fado, proprement dit.

Texto de Raul Portela e Mario Rainho, tradução francesa Anabelle Vilela

Veja o site do artista

O Fado do grupo “eLeZieLa FADO”

O Fado é uma arte viva e o resto da sua história dependerá apenas do que os artistas fizerem com ele. Com eLeZieLa FADO, oferecemos-lhe uma interpretação, uma ilustração musical fiel a quem somos e ao que o Fado nos faz sentir. Apoiamo-nos fortemente no repertório de Amália Rodrigues, que se chamou Rainha do Fado e que continua a ser a cantora mais famosa do Fado mundial. Mas só podemos encorajá-lo a aprofundar a sua descoberta desta forma musical polimorfa, ouvindo os vários artistas de ontem e de hoje que a trazem à vida e a transmitem às gerações seguintes. O Fado é infinitamente rico e vivê-lo é a melhor forma de o conhecer melhor.

Eleziela et la guitare portugaise